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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A “Era da apatia”!


Por Raul Christiano
Como despertar a sociedade para mudanças de verdade no cenário político atual? Essa pergunta virou lugar comum em qualquer situação. E o pior é que os seus autores quase sempre resistem às respostas, que remetem à democracia e às eleições, porque acham que a maioria escolhe errado na hora certa. Penso diferente e encontrei algumas justificativas coincidentes na leitura do livro "1968: O que fizemos de nós", de Zuenir Ventura. Votamos em candidatos que são mais capazes na divulgação de suas idéias e que conseguem nos convencer que farão o melhor. Mas também acho que o desconhecimento da história dos pretendentes, por razões ideológicas ou de prioridades atuais, pode ser responsabilizado pelas escolhas superficiais, descomprometidas.

No meu período de militância mais aguerrida pelo socialismo, a opção pelo voto recaía em personagens que se diziam favoráveis àqueles ideais e isso era um bom motivo para lhes dedicar apoio irrestrito. A ditadura militar era suficiente para nos mobilizar contra e, desde o meu primeiro voto em 1978, muita água passou por debaixo da ponte. Agora fico refletindo sobre o que mudou em cada um de nós, com a democracia reconquistada e a mistura de opções políticas.

Zuenir tem uma resposta para explicar, na sua visão, o comportamento de uma parte dos alvos de uma eleição hoje: "Desapegada ideologicamente, essa turma bem de vida e de poder aquisitivo não se interessa pela política, não tem preocupações sociais e não protesta nem contesta, pelo menos da forma como faziam os seus antepassados quarentões e sessentões, anárquicos ou rebeldes. Em vez da militância, ela prefere a abstenção, a renúncia ou a dissidência. Nem mesmo a liberdade sexual se apresenta como reivindicação coletiva, talvez porque já tivesse sido conquistada pelos que vieram antes."

Mas o foco da política nunca foi exclusivo das elites intelectuais. Convivi nos movimentos comunitários, sindicais e estudantis com pessoas preparadas para lutar por ideais como o fim das desigualdades sociais e pelo direito de conduzir política e administrativamente o seu próprio futuro. Só acho inaceitável a inversão de valores, que de forma crescente virou justificativa para aumentar a importância de quem leva vantagem em tudo. Isso tem sido fatal para quebrar a confiança nos sentimentos autênticos da sociedade, quando alguém ousa vender a idéia de que muda as coisas sem se importar com valores éticos e morais, sacaneados por uma parte significativa dos políticos com mandato.

Votamos em candidatos que são mais capazes na divulgação de suas idéias. Eles saem vitoriosos das disputas eleitorais e se sentem livres das cobranças dessas idéias, porque no Brasil também virou lugar comum saber dos políticos apenas quando os seus nomes aparecem em escândalos no noticiário. O livro de Zuenir Ventura nos permite viajar na evolução do comportamento da sociedade brasileira, relacionando conquistas e tentando explicar essa falta de espírito de luta em nossos dias.

Especialistas em comportamento social mostram pessimismo, quando o tema em debate é a política na sua essência. Definem essa nossa época como a "era da apatia". Por isso, nesse mundo sem bandeiras e palavras de ordem, o desafio de mobilizar a sociedade para realizar mudanças, que ela nem bem sabe por onde deveria começar, passa obrigatoriamente pela educação. Para um bom começo, Educação é tudo!

Raul Christiano é professor, escritor, poeta, jornalista e TUCANO.

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