Por Fernando Moreno Machado
Na última década, 31 milhões de pessoas entraram na classe média, formando um contingente de 95 milhões de brasileiros com renda familiar de R$ 1mil a R$ 4mil por mês. A notícia é tão boa que o governo federal praticamente passou os últimos anos comemorando, sem fazer nada mais para reduzir a dependência que essa enorme fatia da população tem do estado. O trabalhador aprendeu a pescar, mas ainda é obrigado a bancar o dispendioso pesque-pague estatal.
Não entro no mérito da questão sobre a paternidade da espiral econômica opulenta da última década – todos sabem que foi graças às políticas econômicas de FHC. Ainda assim, não deixa de ser instigante que o debate sobre a estabilidade financeira permaneça na barreira da casa própria. É ainda mais intrigante entender por que pagamos o dobro do valor real de uma residência em financiamentos subsidiados pelo governo, enquanto o Brasil tem um dos maiores territórios desocupado do mundo, com matéria-prima abundante para a construção civil. Mas esse simplesmente não é um tópico muito popular em Brasília.
Passemos, então, a assuntos menos embaraçosos. A fila do SUS, por exemplo. A nova classe média alardeada pelo ex-presidente Lula e a “gerentona” Dilma Rousseff possui renda familiar suficiente para comprar um carro popular a longas e suadas prestações ou levar os filhos no Mc Donald´s no final de semana, mas é insuficiente para pagar por um plano de saúde decente. Na primeira febre do filho na madrugada, lá se vão os pais para a porta dos postos de saúde rezando para encontrar o médico ou os equipamentos em perfeitas condições. Os dois funcionando em harmonia são um sonho grandioso demais para ser cogitado.
Embora nem mesmo o governo negue o fiasco que é a saúde pública, (preferem simplesmente adornar o caos com jargões militantes de cartilha) não existem linhas de financiamentos específicos para procedimentos cirúrgicos. A lógica é simples: mesmo com potencial para bancar o próprio tratamento, o respeitável membro da classe média é obrigado a empanturrar ainda mais a fila do atendimento público porque ninguém pensou em emprestar o dinheiro para ele. Mesmo que o carro popular seja uma das garantias de pagamento.
A educação passa pelo mesmo problema. É praticamente impossível para os emergentes pagar escolas particulares para os filhos, preferindo poupar para a universidade. Então, as crianças são enviadas para colégios estaduais, onde o nível de ensino é baixo por muitas outras razões além dos salários dos professores. As chances de entrar numa universidade federal são mínimas, mas tudo bem: basta fazer o Enem e responder uma ou duas questões sobre as tirinhas do Hagar e dar o primeiro passo para tornar-se um profissional de sucesso de nível superior.
E aí está outra propaganda forte do governo federal: nunca tantos jovens entraram na universidade. Nenhuma palavra sobre o que fazem depois de cruzar a soleira da porta. Ficariam envergonhados se expusessem no horário nobre o resultado pífio da nossa pesquisa acadêmica em comparação com outros países que estão em fase de industrialização. O pouco do resultado positivo está nas federais, onde os filhos da classe média alta são maioria. Ainda assim, não há muito do que se orgulhar.
O estado não pretende emancipar os 95 milhões de brasileiros da classe média. O paternalismo público funciona da mesma forma para essa parcela da população como para os 50 milhões de beneficiários do Bolsa Família: não há porta de saída. O empreendedorismo é tosado pela opressora carga de impostos e burocracia, o conhecimento acadêmico é moldado pelo manual ideológico do mandatário da vez e 145 milhões de pessoas ficam eternamente dependentes de um único e supremo líder. Mas ainda podemos comprar um carro e comer fast-food. Desde que o veículo não venha da Ásia e a comida não seja transgênica.
Fernando Moreno Machado é formado em Sociologia e Política pela FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Secretário-Geral do PSDB de Porto Feliz-SP, Delegado Estadual e Nacional do PSDB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário